quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Resenha - Adore - Smashing Pumpkins





“Adore” é um disco bastante diferente dos trabalhos anteriores do Smashing Pumpkins. As guitarras de Billy Corgan e James Iha sempre foram as linhas condutoras da maioria das canções dos três primeiros discos dessa banda de Chicago, mas nesse disco lançado em 1998, elas estão bem menos presentes, e não temos nenhuma canção mais pesada ou agressiva como nos tempos de “Gish” e “Siamese Dream”. Muito pelo contrário: “Adore” é em geral um conjunto de canções ecléticas, delicadas e melancólicas, que refletem bem o momento pelo qual passava a banda, principalmente seu atormentado líder, o guitarrista/vocalista/compositor Billy Corgan.
O uso de influências variadas e estilos distintos que começou no disco anterior, o genial “Mellon Collie and the Infinite Sadness”, continua nesse álbum, principalmente no que diz respeito ao aproveitamento de elementos eletrônicos, que a banda usou discretamente no disco anterior. Mas em “Adore”, eles estão muito mais atuantes, o que chegou à irritar muitos dos fãs mais antigos (e radicais) da banda. Esses elementos são facilmente perceptíveis em canções como “Ava Adore” (a mais acessível do disco, teve seu clipe bastante exibido pela MTV) e “Apples + Oranges” (essa podemos dizer que é essencialmente uma música eltrônica, bem ao estilo do New Order). Mas é importante frisar que, apesar de um impacto inicial negativo para aqueles que não são muito adeptos de influências eletrônicas na música, é dificil que com o tempo o verdadeiro fã do Smashing Pumpkins não passe a gostar dessas canções, pois logo ele percebe que a criatividade e o talento de Billy Corgan e cia ainda estão lá, apenas sob uma nova roupagem, que por sinal, se adequa muito bem ao espírito do disco. Ainda assim, caso o disco não agrade de jeito nenhum o ouvinte, mesmo assim ele pode ficar tranquilo porque em seu mais recente disco, “MACHINA/The Machines of God”, o Smashing Pumpkins voltou a dar mais enfâse às guitarras. “As vezes”, disse Billy Corgan em uma entrevista, “é preciso dar um passo atrás para ir em frente”.
Várias outras sonoridades e experimentações não muito convencionais são usadas ao longo do disco, gerando em algumas músicas arranjos e harmonias criativas e cativantes, e em outras, climas introspectivos e soturnos, como nas semi-acústicas e belíssimas “To Sheila” e “For Martha”. Essa última, juntamente com a singela e emocionante “Once Upon a Time”, são homenagens de Billy Corgan à sua mãe, que na época tinha sido diagnosticada como portadora de um câncer terminal, falecendo pouco tempo depois. Essas canções possuem um forte apelo sentimental em seus versos feitos de maneira bastante expontânea por Billy Corgan (em “Once Upon a Time”, ele canta: “Mother I hope you konw/ That I miss you so/ Tima has ravaged on my soul/ To wipe a mothers tears grow cold”). Essa atmosfera triste permeia o disco todo, a ponto de Billy Corgan tê-lo taxado como “Arcane Night Music”.
Outras canções que merecem destaque são as envolventes e atmosféricas “Shame”, “Crestfallen” e “Daphne Descends” (essa última com um trabalho instrumental magnífico), as cativantes e de bastante apelo pop (sem serem superficiais) “Perfect” e “The Tale of Dusty and Pistol Pete” e a enigmática última faixa, chamada simplesmente de “17” (que é o tempo de duração da música, e que possui alguns versos escritos no encarte, mas que não são efetivamente cantados na música - na verdade, ela é apenas protagonizada por um piano bastante difuso). Merece destaque também o bonito trabalho gráfico do encarte, que acompanha muito bem o clima soturno das composições.
Por fim, vale dizer que nesse disco a banda estava como um trio, uma vez que o baterista Jimmy Chamberlain estava fora do grupo devido aos seus constantes problemas com drogas. Algumas músicas contaram com a participação de bateristas conhecidos como Matt Cameron (ex-Soundgarden, atual Pearl jam), Joey Waronker (Beck) e Matt Walker (ex-Cupcake e atual Filter).
Em suma, um disco muito bonito e atmosférico, com várias passagens emocionantes e intimistas, e que deve ser ouvido e sentido atentamente, para poder ser compreendido e admirado.

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