segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Resenha: Korn 'The Paradigm Shift'


Basicamente existem dois tipos de banda no mundo: as que se mantêm na zona de conforto e lançam álbuns similares sua carreira inteira, e as que tentam ousar e inovar a cada trabalho novo. E se tem uma banda que se encaixa no segundo grupo é o KoRn. Do New Metal ao industrial dubstep, a banda vem tentando se manter com um fôlego novo ao longo desses quase 20 anos de carreira. No entanto, nem todo mundo entende essas mudanças e a quantidade de críticas (muitas vezes infundadas) que eles recebem por isso chega a ser absurda. Sempre algum motivo vem à tona para justificar a suposta“má qualidade” dos trabalhos pós-Head da banda, seja culpa do produtor, das participações especiais ou pela falta de algum dos membros fundadores. Tendo dito isso eu deixo claro que, mesmo sendo fã declarado do KoRn, percebo as falhas que eles cometem e mesmo assim amo grande parte do material que eles lançaram sem o Head, e sem o David.

Mas agora, com a volta oficial do senhor Brian 'Head' Welch para a banda, as expectativas para o novo álbum deles estava altíssima. Ainda mais depois de tantos teasers e pronunciamentos , que afirmava com todas as letras que The Paradigm Shift não era apenas o melhor álbum deles dos anos 2000, mas sim o melhor de sua carreira. Afinal, toda essa hype foi em vão ou tem fundamento?

Depois de ter ouvido em torno de 20 vezes o álbum inteiro, eu posso afirmar: a hype não foi em vão. O medo de que esse trabalho fosse a parte 2 da decepção que o The Path Of Totality representou para muitos, instaurado com o lançamento da controversa e inusitadamente pop Never Never, não podia estar mais longe da verdade. Os riffs poderosos e carregados de peso se impõem ao longo das 11 faixas, dividindo espaço com um desempenho vocal fantástico de Jonathan Davis e um trabalho rítmico impecável de Fieldy Ray Luzier.  Mas voltaremos a esses pontos específicos depois.

O álbum se inicia com uma das melhores músicas que o KoRn lançou nos último anos: Prey For Me.Com os riffs que já são marca registrada da banda, um baixo agressivo e um refrão poderoso e melódico, a música prende o ouvinte e mostra um pouco de tudo que esse álbum traz e representa. O refrão remete um pouco ao Take A Look In The Mirror (especialmente Counting On Me) e a bridgetambém lembra um pouco de Hollow Life, graças aos falsettos de Davis. O álbum segue com Love & Meth, um single já bem conhecido e recebido, trazendo à tona alguns elementos eletrônicos aliados ao peso das guitarras da era UntouchablesWhat We Do continua na mesma vibe KoRn 2002, mas com alguns toques que lembram o Follow The Leader e See You On The Other Side. Destaque para o refrão (que harmoniza mais synths com as guitarras) e para a pesadíssima e cadenciada bridge. Falando emsynths, Spike In My Veins chega representando a parte mais eletrônica do álbum. Ela, juntamente comVictimized – que possui um dos riffs mais grudentos do álbum – e It's All Wrong, mostra como o KoRnconseguiu balancear esses dois mundos distintos da música eletrônica e do metal, com certa naturalidade. Chegamos então a uma das faixas mais poderosas que a banda gravou nos últimos tempos. Mass Hysteria traz um feeling da época do Issues em todos os seus aspectos, apenas soando mais “preenchida”. Aliás, o refrão dessa faixa é mais um destaque, massivo e épico. Paranoid And Aroused e Punishment Time são de certa forma nostálgicas. A primeira por causa da presença do pedal wah-wah – muito usado nos primeiros trabalhos da banda – e a segunda graças ao seu riff porrada-no-pé-do-ouvido a la Life Is Peachy. No entanto, Punishment Time, tem um refrão inusitadamente melódico, contrastando com o riff principal e fazendo, inclusive, a música soar um tanto “desconjuntada” por falta de uma transição mais eficiente entre verso-refrão. Ainda assim é um dos meus refrões preferidos do álbum. Por fim chegamos à cereja no topo do bolo. Lullaby For A Sadist é a música completa, se inicia como uma balada, passa por um pré-refrão que parece o primo distante deShoots And Ladders, explode num refrão extremamente melódico e emotivo para culminar numa bridge sombria - que acaba casando perfeitamente com o propósito da faixa. 

The Paradigm Shift ressuscitou muitas coisas e deu um novo fôlego para outras. O duo-maravilha doNew Metal, Munky Head, nos presenteia ao longo dessas 11 faixas com alguns dos riffs mais pesados que o KoRn já compôs. E, além disso, também ousam em certos momentos, experimentando abordagens mais melódicas ou sutis. Fieldy também mostra um desempenho satisfatório, apesar de estar menos audível, opta menos pelos slaps do que nos trabalhos anteriores, mais acompanhando a bateria e dando 'gordura' à sonoridade da banda do que ocupando um lugar de destaque. E falando em destaque, não posso deixar de mencionar Ray Luzier. Uma pena para aqueles que ainda querem oDavid Silveria de volta. Eu entendo que a vontade de ver a formação original reunida novamente é grande, mas vamos admitir: o Ray é um monstro na bateria e trouxe para a mesa uma complexidade rítmica, técnica e peso que estavam adormecidos no KoRn há muito tempo – e completam perfeitamente a proposta atual deles. Ainda, para coroar o CD que já está na minha lista de álbuns do ano, Jonathan Davis se mostra renovado. Em The Paradigm Shift, Davis apresenta um alcance vocal variado e muitas vezes impressionante, mostrando, tanto através de suas letras como de sua performance, porque ele é uma peça-chave para a sonoridade do KoRn. Além disso, ele foi o responsável pela parte eletrônica do álbum. Parte eletrônica que, aliás, está muito presente no plano de fundo das músicas e ajuda a dar consistência e quebrar qualquer possível monotonia dentre as faixas. 

Existem problemas também, sim, uma ou outra música que soa mal estruturada ou até mesmo um pouco fraca dentro do panorama geral (vide Never Never). Até mesmo a sensação de alguns riffs serem reciclados, ou similares demais entre si. Mas mesmo assim são problemas ínfimos. Normalmente eu daria de 4.0 a 4.5 para The Paradigm Shift. Mas, graças a tudo que ele representa,  pela quantidade de músicas memoráveis que ele apresenta, e pela alegria como fã de ver a banda tão renovada e feliz com o que está fazendo, vou ter que dar nota máxima. 

KoRn renasceu e fez muita gente morder a língua. Ansioso para ver o que o futuro da banda nos reserva.



Nenhum comentário: